Escândalo de corrupção: por que Itaú decidiu tornar públicos casos internos e como isso impacta o banco

11/12/2024

Os dois episódios de executivos do Itaú que foram acusados pelo banco de irregularidades e tiveram seus casos publicizados causará danos muito limitados à companhia e à sua reputação, avaliam especialistas ouvidos pelo IstoÉ Dinheiro. (Por Eduardo Vargas) - foto Paulinho Costa feebpr - 

Contudo, a situação toda foi inusual, acreditam eles, o que desperta suspeita de que existam mais fatos a serem apresentados ou revelados durante os próximos passos da investigação. Os casos são totalmente distintos, mas foram revelados com poucos dias de diferença.

Primeiro, foi comunicada a saída do diretor de Marketing (CMO) do banco, Eduardo Tracanella, um alto executivo com 27 anos de casa e responsável por campanhas e ações de grande repercussão. Ao ser revelado que a saída de Tracanella estava relacionada ao mau uso do cartão corporativo, o banco confirmou a informação, mas sem detalhamento.

O segundo caso, que veio à tona no sábado, 7, envolve “conflito de interesses em pareceres contábeis”, segundo o banco, de seu ex-diretor financeiro (CFO) Alexsandro Broedel. Apuração do Brazil Journal apontou que o banco via indícios de crimes praticados por seu ex-executivo, como associação criminosa, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta. Assim, a instituição teria contratado um escritório de advocacia para entrar com uma ação civil de reparação de danos contra os envolvidos.

O ex-executivo teria aprovado contratações, entre 2019 e 2024, no valor de R$ 13,2 milhões para uma empresa que era ligada a um fornecedor de quem ele era sócio. Além disso, o banco afirma que foram apurados indícios de que o fornecedor teria redirecionado parte do valor dos pagamentos para contas do executivo, em transações de cerca de R$ 4,8 milhões.

Surpresa

O momento e a forma como o Itaú apresentou o caso do CFO surpreendeu o mercado. José Aurélio Valporto, presidente da Associação Brasileira de Investidores (Abradin), comenta que Alexsandro Broedel, o CFO, era uma figura respeitada no meio, sendo inclusive professor da Universidade de São Paulo (USP).

Broedel deixou o banco meses atrás para atuar em um concorrente, o Santander, e Valporto sinaliza que a atitude do Itaú “queimar” o executivo foi inesperada.

“Não faz tanto sentido tornar isso público deste modo. No caso do CMO, ainda que houvesse gastos pessoais, não iriam detonar o cara dessa maneira, achei tudo muito estranho, há outros casos com conflito de interesses muito sérios e os sujeitos continuaram”, disse, citando o exemplo do suposto conflito de interesses de Ubiratan Machado, diretor de fusões e aquisições (M&A) do Itaú BBA que assessorou a venda da KaBum para o Magalu sendo cunhado do CEO da varejista, Fred Trajano.

“Acho o caso todo inusual. Na minha visão, há suspeita de que se tem algo por trás. Precisamos ver como será daqui para frente o processo de investigação”, completa.

Marcos Bedendo, professor de Marketing e Branding da ESPM, comenta que a postura do maior banco privado do Brasil foi “louvável” por um aspecto, dado o nível de transparência, mas também considera a atitude “um pouco incomum”.

“O mais usual é deixar o assunto meio que morrer. Geralmente as empresas não comunicam de uma maneira tão clara quanto foi nesse caso, só respondem quando são questionadas, mas é difícil se tomar frente deste modo e citar tudo o que ocorreu”, analisa.

Como agiu o Itaú
No caso de Broedel, após sua saída, foram verificadas as irregularidades e o assunto foi discutido em assembleia do conselho. Por regra, uma companhia caracterizada como Sociedade Anônima (S.A), precisa divulgar suas atas de assembleia. Além disso, havia prazo para não prescrição – parte das irregularidades, dos anos mais antigos, prescreveriam se o Itaú não tomasse as medidas tão logo.

No caso de Eduardo Tracanella, o ex-CMO, o banco primeiramente não havia informado a motivação para o desligamento do executivo. O próprio Tracanella comunicou sua saída em uma postagem no LinkedIn, dizendo estar “encerrando um ciclo” e que era hora de se dedicar à família.

Com a divulgação na imprensa de que a causa foi por mau uso do cartão corporativo, o banco confirmou a informação.

“O Itaú Unibanco confirma que o desligamento de Eduardo Tracanella foi motivado única e exclusivamente pelo mau uso do cartão de crédito corporativo, sem prejuízo material à instituição. O banco agradece sua dedicação ao longo de tantos anos e sua contribuição na construção de uma das marcas mais admiradas do país”, disse o banco, em seu comunicado sobre o caso.

Sobre a situação de Broedel, o banco, em comunicado, reforçou que “se trata de uma situação isolada e que não há prejuízo relevante à instituição”.

“Inclusive, não foi identificada nenhuma preocupação com relação aos pareceres recebidos. Ressalta-se, ainda, que seus balanços foram reavaliados pelo Comitê de Auditoria da Companhia e por consultoria externa e independente, a PWC, que certificaram a lisura e a ausência de impacto nas demonstrações financeiras e nos resultados do Itaú Unibanco”.

Além disso, a visão da casa é de que os procedimentos internos funcionaram, sem uma necessidade iminente de alterações nas regras de compliance e afins.

“O Itaú reafirma que seu robusto ecossistema de políticas e processos de ética e conformidade permanecem íntegros e não houve falha interna neste sentido. Com a devida tempestividade e transparência, o Itaú reportou o caso a todos os órgãos reguladores competentes. Por fim, declara que está ajuizando as medidas adequadas contra Broedel Lopes e o fornecedor para buscar o ressarcimento dos valores”.

Dentre as medidas tomadas, de imediato, estão uma ação civil já protocolada no Tribunal de Justiça de São Paulo e um processo administrativo em fase inicial na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – que pode levar a sanções administrativas, caso sejam confirmadas irregularidades.

Reputação do Itaú deve seguir praticamente inabalada
O valor supostamente desviado pelo CFO, de R$ 13,2  milhões, representa cerca de mil vezes menos o que o banco já lucrou em um trimestre (mais de R$ 10 bilhões no terceiro trimestre de 2024), tendo impacto menor no balanço contábil.

Além disso, o impacto na marca e na imagem do banco também é relativamente limitado. Especialistas de marketing e branding comentam que são casos que ganharão a atenção de públicos extremamente específicos, como o mercado de capitais, acionistas do banco e afins.

“Isso não impacta a imagem do banco para o grande público, tem mais a ver com a parte dos acionistas e do meio, porque isso passa longe da maioria das pessoas. A grande maioria dos clientes sequer ficará sabendo, e boa parte dos que souberem não se importarão”, comenta Bedendo, da ESPM.

A consultoria Kantar BrandZ elegeu o Itaú Unibanco como a marca mais valiosa do Brasil em meados de março, com uma avaliação de US$ 7,4 bilhões – ficando a frente de Brahma, Skol, Claro e Nubank, respectivamente.

Marcílio Alves, estrategista de Branding e sócio da NDG Branding, explica que, apesar disso, há alguns danos limitados à marca do banco, mas endossa que a base de clientes também não deve ter a percepção alterada, especialmente pelo fato de que o banco já tomou medidas e está investigando as ações em relação aos fatos.

“Na minha percepção, é um arranhão, um leve arranhão, digamos assim, nessa trajetória da marca, algo que qualquer marca está sujeita”, analisa.

“Acredito que aos poucos essa situação, esse fogo, essa fumaça, digamos assim, ela vai se dissipar e o Itaú terá outras notícias aí para ocupar, outras informações para ocupar o noticiário”, completa.

Além disso, vale destacar que o impacto nas ações do Itaú foi nulo. Em ambos os casos, os papéis preferenciais do banco não tiveram aumento de volatilidade por conta dos casos – inclusive, no caso do CFO os papéis subiram no pregão subsequente, com alta de 0,46% na segunda-feira, 9.

Auditoria e reguladores não falharam
Diferentemente de casos como o da Americanas, em que as auditorias foram duramente criticadas por conta de terem deixado passar erros graves em balanços contábeis, nesse caso especialistas indicam que os problemas não mostraram grandes brechas na governança do banco e na atuação de reguladores e auditorias.

“Comparando com outros países, por mais que se ache que o Brasil é corrupto, quando olhamos para o mercado de capitais, temos legislação muito rígida e muitos mecanismos de controle, além do Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com normas claras”, explica Mariana Bonfim, professora de contábeis da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A professora ainda acrescenta que, por conta de casos como esse terem se tornado midiáticos, é sinal de que os problemas de governança e similares estão sendo expostos e combatidos.

O empresário, conselheiro de empresas como Exxata e KPL Supply e M&A advisor, Roberto Valverde, analisa que é ‘estranho’ uma companhia do tamanho do Itaú ter deixado falhas como essa terem passado com suas normas e regras de governança.

“Existe um processo de governança e compliance no banco; não acho que é coincidência os dois fatos virem à tona na mesma semana, é como se isso já tivesse ocorrendo e decidissem vazar isso na mídia na mesma semana”, comenta.

“Outra coisa que me chama atenção, que é uma companhia com vários comitês, auditada. Como deixaram passar isso durante um determinado tempo até que isso seja descoberto? Sendo uma empresa grande, é difícil um executivo fazer isso sozinho, sem terceiros estarem sabendo, não vou estranhar se no decorrer da investigação mais nomes aparecerem”, completa.

Valverde também avalia que a imagem do banco deve sofrer poucos danos com a publicização de ambos os escândalos com executivos.

Além disso, cita que foi uma “falha grotesca de governança” e que houve falta de procedimento. Os impactos diretos devem incluir uma revisão nos processos da empresa.

“Se for severo dentro do que o banco enxerga, o Conselho [de Administração] deveria rever o perfil dos C-Levels e pedir uma auditoria dos processos internos do banco. Não adianta contratar executivos, novos perfis, e ver a mesma falha ocorrendo. Eu como conselheiro, nesse momento, também discutiria o perfil dos executivos do banco, analisando se seria um problema de cultura ou um problema isolado, de um CPF só”. (Fonte: IstoÉ Dinheiro)

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