Nova prévia de inflação coloca em xeque política de alta de juros do Copom

26/09/2024

 

Comitê de Política Monetária elevou taxa básica de juros temendo alta da inflação que, até agora, não aconteceu

Alimentação em domicílio ficou mais barata de agosto para setembro, segundo o IBGE 

Foto - Ariel Gomes - GOVCE

prévia da inflação de setembro, divulgada nesta quarta-feira (25), reforçou as críticas de certos economistas à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de aumentar a taxa básica de juros na economia nacional, a Selic.

 

Na semana passada, o Copom decidiu elevar a taxa pela primeira vez desde 2022. O órgão aumentou a Selic de 10,5% ao ano para 10,75% ao ano, argumentando que a inflação no país tinha parado de cair. "Observa-se, ademais, uma interrupção no processo desinflacionário no período mais recente", registrou o órgão, apontando para um risco de os preços voltarem a subir no país num futuro próximo.

 

Os últimos dados oficiais sobre preços divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém, contrariam esse cenário. Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação negativa de 0,02% –ou seja, desinflação ou queda generalizada de preços no país.

Já o IPCA-15 de setembro, considerado a prévia da inflação deste mês, ficou em 0,13%, abaixo dos 0,19% registrados em agosto e menos da metade dos 0,35% verificados em setembro do ano passado – ou seja, a inflação está em queda. Por isso, há estudiosos que indicam que o Copom errou ao elevar os juros.

 

"O IPCA-15 só reforça a tendência mesmo de desaceleração dos preços", disse Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, que discorda dos fundamentos da decisão do Copom sobre os juros.

"Mais uma vez, os dados mostram que a ferramenta e a dosagem estão completamente equivocadas", acrescentou Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), sobre a elevação da Selic em 0,25 ponto percentual.

Ineficácia

 

Para Dantas, além de equivocada, a decisão do Copom sobre os juros é ineficaz. Em última instância, a medida visaria reduzir a inflação no país, encarecendo empréstimos e financiamentos, e reduzindo a demanda por produtos e serviços.

O especialista ressaltou, contudo, que a inflação existente hoje no Brasil – a qual está dentro da meta – não decorre de excesso de demanda, mas sim de questões climáticas.

Na prévia da inflação de setembro, por exemplo, o aumento de 0,84% das contas de luz empurrou o índice para cima. Esse aumento está vinculado à vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 1 a partir do primeiro dia do mês. E tal bandeira só foi posta em vigor por órgão reguladores por conta da queda do nível de reservatórios de água de hidrelétricas.

"Um preço administrado, que varia de acordo com as condições climáticas para a geração hidrelétrica de energia, o que não tem absolutamente nada a ver com a ferramenta taxa de juros para combater a inflação", afirmou Dantas, criticando o Copom.

Expectativas

Pedro Faria, também economista, acredita que o comitê tem errado sistematicamente em suas decisões sobre juros porque se importa mais com as expectativas de economistas sobre os rumos da economia do que a economia em si.

Como economistas, principalmente aqueles ligados ao mercado financeiro, costumam prever resultados piores quando a esquerda está no governo, o Copom tem errado também em suas decisões. "O Copom não faz a crítica que deveria das expectativas de inflação e juros que estão sendo sistematicamente superestimadas", disse ele.

Os bancos, aliás, estimavam que a Selic fecharia 2024 em 11,25% até semana passada. Agora, eles já estimam que suba até 11,5%, sendo que, para alguns, a alta seria de 11,75%.

Andrew Storfer, diretor do Núcleo de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), diz que essas expectativas já consideram uma elevação de preços que tende a ocorrer nos próximos meses por conta da seca. Ele, aliás, defende que o Copom se atente a esses dados já que o órgão precisa tomar decisões considerando horizontes de um ano a um ano e meio.

 

"O Copom olha um prazo mais longo e não apenas um ou dois meses específicos e, com este olhar, julgou que, para forçar a convergência para a meta, ainda seria necessário um aumento da Selic, por entender que o hiato do produto ainda é positivo, ou seja, há risco de endurecimento na queda da inflação", explicou.

Edição: Martina Medina

Fonte: Brasil de Fato

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