Superintendente do banco diz que medida vai facilitar o recebimento do benefício de forma offline em locais remotos (Por Stéfanie Rigamonti)
O superintendente nacional da Caixa Econômica Federal, Rafael Dias Silva, disse nesta segunda-feira (26) que o banco vai começar a testar entre abril e maio o pagamento do Bolsa Família por meio do Drex, o real digital que está sendo desenvolvido e testado pelo Banco Central, e que faz parte da família do Pix.
A ideia é permitir que a população que habita as regiões mais remotas do Brasil possa receber o benefício de forma offline. Isso permitirá que pessoas que moram em locais de difícil acesso à internet e às agências bancárias não precisem se deslocar de cidade para conseguir sacar o dinheiro.
Segundo Dias, essa solução ajudará, inclusive, a movimentar as economias locais, beneficiando os pequenos empresários e comerciantes.
"A Caixa atinge 99% da população brasileira, dos municípios, e entre elas as comunidades ribeirinhas. Só que muitas vezes o ribeirinho tem que se deslocar para uma cidade maior, sacar esse dinheiro e às vezes ele faz as compras em uma cidade grande e traz essas compras para a cidade dele", disse Dias durante evento sobre o Drex, organizado por Microsoft e Hamsa, em São Paulo, com reguladores e líderes do setor bancário.
Dias estima que cerca de 5% do total dos beneficiários do Bolsa Família poderá ser usuária da nova tecnologia.
O Drex está em fase de testes e promete democratizar o acesso aos serviços financeiros, baixando o custo de produtos, como empréstimos e seguros. A nova moeda digital brasileira, que deve ser lançada entre o fim deste ano e o início de 2025, também vai facilitar o ingresso no ambiente dos investimentos, aumentando, assim, a bancarização no Brasil.
O real digital não é uma criptomoeda, mas uma representação do real na plataforma digital, podendo ser usado para pagamentos, para a compra e venda de um carro ou um imóvel sem intermediários, por isso com menos custos e mais confiança, para a tomada de empréstimos, além da criação de novas soluções, como essa estudada pela Caixa.
"Quando a gente pensa Drex e uma forma que a gente consiga 'tokenizar', por exemplo, garantias, a gente pode trazer oportunidades para pequenos empresários, pequenas empresas terem mais liquidez, mais empréstimos e financiamentos", disse Rafael Dias.
À Folha, o superintendente da Caixa contou que o banco estuda depositar o valor do Bolsa Família por meio do Drex em um cartão, que o beneficiário poderá utilizar mesmo em locais sem acesso à internet.
Depois do sucesso na prova de conceito, a Caixa deve discutir internamente qual deve ser a estratégia junto ao Ministério da Fazenda e ao governo federal. Além disso, como o banco é uma empresa pública, deverá fazer uma licitação para a implementação da tecnologia.
Evandro Avellar, gerente nacional de serviços financeiros da Caixa, acrescentou que também será preciso discutir a regulamentação do Banco Central para esse tipo de pagamento.
A ideia do pagamento do Bolsa Família por meio do Drex surgiu, segundo ele, no ambiente do LIFT Challenge (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas) do BC brasileiro.
"Uma empresa demonstrou o uso e a gente se interessou. E pensamos: será que isso não se aplica a alguns casos de uso para nós? Começamos a pesquisar", afirmou Avellar.
Segundo Avellar, mesmo em regiões mais remotas as pessoas estão diminuindo cada vez mais o uso de dinheiro e se digitalizando. Com frequência, porém, essa digitalização expõe pessoas a transações não seguras.
"Já ouviu falar no Pix confiança? Vimos isso em uma comunidade. Em barracas de peixe o dono vende o produto, passa o código de pagamento e o cliente paga só quando chega a algum lugar com acesso à internet", contou.
Com o Drex e soluções como o pagamento do Bolsa Família por meio do real digital, a ideia é aumentar a digitalização dessas pessoas de forma considerada segura.