Grupo diz que mais de 500 profissionais foram obrigados a aceitar rebaixamento de funções e mudança de local de trabalho sem critério. Investigação não foi ainda concluída. Procurador afirma que precisa ouvir mais testemunhas. (Por Andréia Sadi e Luiza Tenente, g1)
Uma denúncia de 2020 ao Ministério Público do Trabalho afirma que 500 ex-gestores da Caixa Econômica Federal, com salários altos e mais de 30 anos de carreira no banco, sofreram rebaixamento de função e foram transferidos a postos de trabalho distantes de suas casas para que se sentissem forçados a aderir ao plano de demissão voluntária anunciado à época.
Eles alegam que foram perseguidos durante a gestão do então diretor Pedro Guimarães (que pediu demissão em 29 de junho de 2022, após relatos de assédio sexual, negados por ele).
Apesar de estes funcionários queixarem-se da demora nas investigações, o procurador responsável pelo procedimento, Carlos Eduardo Carvalho Brisolla, afirma ao blog que está reunindo provas mais robustas desde dezembro de 2020.
“No atual momento, estou em fase de oitiva de testemunhas, aberto a quem quiser vir depor”, diz. “A ConTraf [Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro] e a Fenae [Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal] foram admitidas no feito e estão apresentando alegações.”
Ele afirma que o inquérito, com prazo de um ano, foi renovado até dezembro de 2022, quando poderá ser novamente prorrogado, se necessário. “Não me convenci de que era o caso de arquivar. Era preciso produzir mais provas. A Caixa diz que [as transferências e rebaixamentos] foram por questões internas, sem perseguição. Vou ouvir o máximo possível de testemunhas, estou com as portas abertas. Agora, com os escândalos recentes, vai ficar mais fácil, porque mais pessoas vão querer falar.”
Procurada pelo blog, a Caixa não se pronunciou até a última atualização deste post.
Entenda os relatos dos ex-gestores
Na denúncia, funcionários com mais de 30 anos e funções comissionadas na Caixa relatam ao MPT que sofreram pressão da direção do banco para aderirem ao plano de demissão voluntária.
Havia duas opções: aceitarem deixar seus empregos ou continuarem na empresa, mas ocupando cargos inferiores, em agências distantes de suas casas.
Segundo os relatos dos ex-gestores, uma lista sigilosa, de posse da direção, reunia os nomes dos funcionários com maior tempo de carreira e salários mais altos. Toda a comunicação da Caixa com eles era feita por telefone, sem registros formais.
“A empresa age indubitavelmente para criar este ambiente de tensão, estresse e instabilidade [...]. A área de RH também não apresenta informações por escrito, não divulga a lista de agências com vagas, trata com os empregados por telefone e ainda usa de ameaças para forçar a escolha de uma agência, sob pena de ser, arbitrariamente, mais distante ainda”, afirma a denúncia ao MPT.
Como o procedimento ocorreu em 2020, ainda antes da vacinação contra a Covid-19, o grupo queixava-se de sair do home office e voltar a trabalhar presencialmente, ainda mais em agências localizadas em cidades-satélite de Brasília, como Planaltina, Ceilândia, Recanto das Emas e Brazlândia.
“Em plena pandemia, quem, por iniciativa própria, solicitaria sua remoção para uma agência localizada distante de sua residência, com pior infraestrutura e com menos segurança, se não fosse uma imposição da própria Caixa?”, afirma o relato dos ex-gestores ao MPT.
Nota do MPT
O Ministério Público do Trabalho enviou a seguinte nota ao blog:
"O Inquérito Civil continua aberto e as investigações em curso, acompanhada pela FENAE. Não houve paralisação no procedimento que, inclusive, foi prorrogado no início do ano, em razão da necessidade de apuração detalhada, incluindo ampla defesa e contraditório, juntada de documentos e oitiva de testemunhas. O MPT também esclarece que gestores que se sentiram discriminados podem procurar o órgão e contribuir para a coleta de provas no procedimento.
Importante destacar que a investigação se iniciou durante o período mais crítico da pandemia da COVID-19. Além disso, muitos documentos do procedimento encontram-se sob sigilo, a fim de se preservar, especialmente, a identidade e os dados pessoais dos empregados. O tema exige análise ampla e oitiva de várias testemunhas para que se possa adotar as providências cabíveis, de acordo com a conclusão alcançada pela valoração das provas colhidas." (Fonte: g1)
Notícias Feeb/PR