Fenag ingressou com uma ação coletiva junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região, em Brasília. Vítimas relatam sofrer de ansiedade, depressão e síndrome de burnout por "uma gestão baseada na intimidação, no terror e no pânico" (Por Luís Felipe Granado)
A Federação Nacional das Associações de Gestores da Caixa (Fenag) protocolou ação coletiva na 10ª Vara do Trabalho de Brasília-DF contra a Caixa Econômica Federal por assédio moral . As denúncias contra servidores em cargos de gestão foram coletadas desde 2019 em mais de nove ofícios enviados à direção do banco, que os ignorou .
Segundo a Fenag, as acusações contra o ex-presidente do banco, Pedro Guimarães , representam apenas "a ponta do iceberg". Vítimas relatam sofrer de ansiedade, depressão e síndrome de burnout por conta de "uma gestão baseada na intimidação, no terror e no pânico".
O valor da causa foi estipulado em R$ 100 mil, somando danos materiais e morais.
As denúncias
Uma das gestoras que teve seu nome preservado afirma que teve apenas 30 minutos para aceitar uma convocação para atuar em uma agência em Tauá/CE, há 500 km de sua residência. Ao retornar, sofreu decesso de função e ficou dois anos afastada por síndrome de burnout.
Outra servidora relata ter sofrido ameaças de transferência e de perda de função após recusar investidas de cunho sexual no ambiente de trabalho.
Uma gestora disse que suacolega, ao questionar as metas abusivas, ouviu que "não haveria discussão e [as metas] eram para serem cumpridas". Ela teve a equipe reduzida e em 2018 teve a cabeça raspada em processo de automutilação. Além disso, sofreu infartos por crise do pânico e perdeu a capacidade de ler e se concentrar.
“Em uma reunião, o SR fez um gráfico, atribuído a um cientista alemão de nome impronunciável, em que as variáveis eram Stress e Competência. Ele disse que o grande stress e a pouca competência que levavam ao adoecimento. Aquilo acabou comigo”, relembra.
Além disso, há relatos de provas escritas com perguntas superficiais, mas de cunho político e partidário.
“As questões não indicavam nenhuma associação com competências específicas e funções exercidas pelos profissionais na empresa, mas sim tendenciosas, de viés político e partidário. Uma das perguntas era se o gestor concordava com a reforma da previdência proposta pelo atual governo federal”, relata um gestor de São Paulo, que teve sua identidade preservada.
Neste período, profissionais foram alertados que pessoas do alto escalão da Caixa estariam vasculhando perfis de redes sociais pessoais de empregados que foram orientados a deletar postagens com posicionamentos políticos, sobretudo, críticos ao atual governo para evitar “retaliações”.
Os empregados também recebiam orientações para se vestirem com a “paleta de cores da Caixa”, ou seja, gravatas, vestidos, sapatos, capas de telefone e qualquer objeto pessoal na cor vermelha deveriam ser banidos dos pertences dos gestores do banco.
Assédio sexual
A advogada de uma gestora da Bahia relatou episódios de assédio sexual sofrido por sua cliente. Por recusar as investidas, foi ameaçada de transferência e de perda de função. Segundo ela, os ataques se tornaram mais frequentes após acionar a Justiça.
Ao ajuizar ação trabalhista 13h após o ocorrido, no TRT da Bahia, a juíza deferiu liminar de tutela inibitória para manutenção da função, salário e agência e todos os demais atributos de contrato de trabalho.
Atualmente, está afastada do trabalho por problemas de saúde.
O processo
Um dos despachos, assinado pela juíza do Trabalho, Margarete Dantas Pereira Duque, relata "imposição de metas de produtividade absurdas", aumento e cobrança "das já extorsivas metas impostas" e "obrigação de que todos [funcionários] fossem aglomerados no interior das agências". O documento afirma que os funcionários tinham jornadas de até 14 horas diárias, além de diversos sábados trabalhados em cidades distantes.
O processo afirma ainda que houveram "punições indevidas e excessivas a vários gerentes em razão de fatos excepcionais ocorridos durante a pandemia, para dar 'exemplo de gestão'" e utilização de “listas negras” trabalhistas, (expressão que deve ser evitada).
As denúncias, protocoladas em sigilo em outubro de 2020, seguem sem julgamento. As partes devem ser ouvidas presencialmente no dia 25/10/2022.
A CAIXA informa que não tomou conhecimento da ação. (Fonte: Brasil Econômico)
Notícias Feeb/PR