Com o Brasil vivendo uma recessão, milhares de desempregados e empresas quebrando, o Itaú, Bradesco, BB, Caixa e Santander tiveram lucro de R$ 23,87 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Foi o melhor trimestre para esses bancos em quatro anos, desde o primeiro de 2015. Não é toa que o sistema financeiro privado é o maior interessado na reforma da Previdência, pois querem, a qualquer custo, ampliar mais ainda sua margem de lucro em detrimento das condições de vida dos brasileiros.
Esse resultado é positivo porque ajuda a reforçar o debate sobre a importância da Caixa se manter pública, dada sua capacidade de superação de obstáculos ao longo da história e de geração de resultados e eficiência crescentes. Mas, para muito além dos números, a constatação negativa é que, se em outras ocasiões a Caixa atuou, junto com os demais bancos públicos, para uma política econômica anticíclica, visando incentivar a atividade econômica, atualmente segue a mesma lógica das instituições privadas, com restrição ao crédito, alta de juros e spreads. Há redução nos investimentos para desenvolvimento do Brasil e, dessa forma, na diminuição da desigualdade social.
As marcas consolidadas na década passada de “banco das menores taxas”, “mais que um banco” e “melhor banco para se trabalhar” já não retratam a realidade, e os números provam isso. A Caixa já é um dos bancos com menos empregados dentre os cinco maiores. Nos últimos 12 meses foi o com maior queda percentual no número de empregados; em dezembro de 2014 contava com 101 mil, pelos números do primeiro trimestre está com 84.826 mil. O atual PDV chegou aos 3.500 inscritos, depois de muita pressão da direção do banco que retirou funções e realizou transferências, com o objetivo de criar descontentamento e aumentar a adesão. Portanto já são em torno de 20 mil empregados a menos. As anunciadas 2.000 contratações não suprirão a demanda reprimida e as condições de trabalho tendem a piorar ainda mais. Entre 2018 e 2019, 23 postos de atendimento foram fechados.
O lucro líquido do 1º tri/19 foi de R$ 3.920.331 bi. Na comparação com 1º tri/18 (R$ 3.190.683 bi) isso representa uma elevação de 22,9%; mas outras considerações devem ser feitas para análise desse resultado e sua compatibilidade – ou não – com o papel esperado para um banco público, como se vê nos itens a seguir.
Crédito - A carteira de crédito sofreu um recuo de 2,0%, de R$ 700,2 bi (1ºT18) para R$ 685,8 bi (1ºT19); A maior queda no período foi da carteira comercial (PJ +PF); Pessoa Jurídica recuo de 28,15%, de R$ 65 bi (1ºT18) para R$ 46,7bi (1ºT19); Pessoa Física, recuo de 10,68%, de R$ 90,8 bi (1ºT18) para R$ 81,1bi (1ºT19); Essas quedas foram parcialmente compensadas por discretas elevações no crédito habitacional de 3,30%, de R$ 433,1bi (1ºT18) para R$ 447,4bi (1ºT19); no crédito para infraestrutura de 1,21%, de R$ 82,7bi (1ºT18) para R$ 83,7bi (1ºT19);
PDD, Provisão com Devedores Duvidosos - Fator polêmico entre os empregados no fechamento do balanço de 2018, devido ao aumento substantivo do provisionamento, em função dos imóveis retomados – BNDU. Nesse primeiro trimestre, segundo o banco tais despesas totalizaram R$ 2,8 bilhões, redução de 24,4% em 12 meses, reflexo do recuo de R$ 14,4 bilhões na carteira de crédito e pela mudança de sua composição, mais concentrada em créditos de baixo risco.
Na comparação com o 4T18 houve queda de 45,0% em função da revisão das avaliações de risco das maiores operações que resultaram em ajustes de rating no segmento de infraestrutura que impactou em R$ 1,1 bilhão as despesas de PDD daquele período, no primeiro trimestre.
Habitação - A Caixa continua liderando o mercado de habitação, com 68.8% de participação, mas com crescimento tímido diante da necessidade do País. Ganho de 0,32% p.p. em 12 meses. A tabela abaixo destaca a participação das principais linhas de crédito em habitação da Caixa.
Banco Social - As Loterias Caixa arrecadaram R$ 3,3 bilhões no 1T19, mantendo o patamar alcançado no 1T18. Dentre os valores arrecadados, cerca de R$ 1,2 bilhão foram transferidos, no período, aos programas sociais do governo federal nas áreas de seguridade social, esporte, cultura, segurança pública, educação e saúde, o que corresponde a 37,2% do total. A tabela a seguir resume a participação da Caixa em políticas públicas e em programas dirigidos aos trabalhadores do País.
É fundamental que a sociedade se aproprie do debate sobre o papel que os bancos públicos e os privados deveriam desempenhar para a diminuição da pobreza, aumento do emprego, investimento na economia. Fica parecendo natural a busca desenfreada por lucro em detrimento do bem comum. A Caixa vem perdendo seu papel social a partir do modelo de gestão, com escassez de investimentos e, agora com a pretensão da privatização das suas operações.
Se tudo isso se concretizar ganharão as multinacionais que estão comprando tudo o que veem pela frente no Brasil e a população brasileira é que vai arcar com as consequências, como já está acontecendo.
Rita Serrano é representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, diretora da Fenae e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas