Pesquisa revela adoecimento crônico de bancários da Caixa e mostra que mais da metade já sofreu ao menos uma situação de assédio moral. Remédios mais usados são antidepressivos e a
Um em cada três trabalhadores da Caixa Econômica Federal teve algum problema de saúde relacionado ao trabalho nos últimos 12 meses. Doenças psicológicas e causadas por estresse representam 60,5% dos problemas que afetam bancários e bancárias.
Entre os que adoeceram, 53% precisaram recorrer a algum medicamento e 10,6% relataram depressão. Os remédios mais usados foram os antidepressivos e ansiolíticos (35,3%), anti-inflamatórios (14,3%) e analgésicos (7,6%). Além disso, mais da metade (53,6%) alegou ter passado por ao menos uma situação de assédio moral.
Questões relacionadas à gestão do banco estão entre as principais causas de adoecimento. Do total de entrevistados, 58% se dizem sobrecarregados, 16,3% alegam que falta de pessoal é o principal motivo dos problemas e insatisfação no local de trabalho, e 16% se queixam da cobrança excessiva por metas.
Os dados fazem parte da pesquisa inédita ‘Saúde do Trabalhador da Caixa’, encomendada pela Federação Nacional dos Associados da Caixa Econômica Federal (Fenae) e realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, que ouviu dois mil trabalhadores e trabalhadoras entre os dias 2 e 30 de maio.
Para o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, os resultados da pesquisa revelam o quanto a sobrecarga de trabalho e a ausência de uma política de saúde do trabalhador estão prejudicando a vida de milhares de pessoas e provocando um verdadeiro quadro de adoecimento crônico na categoria.
“Os dados confirmam o que nós estamos denunciando em relação à sobrecarga de trabalho e falta de empregados suficientes para atender as demandas dos clientes”.
Com os planos de incentivo e desligamento de empregados, diz Jair, a Caixa já reduziu 15 mil postos de trabalhos sem nenhuma substituição e fechou diversas agências bancárias pelo país. De 2014 até hoje, a Caixa passou de 101 mil empregados para 86.500.
“As pessoas estão trabalhando cada vez mais sob pressão para cumprir metas, com medo de reduzir a remuneração e tudo isso leva ao adoecimento”.
A pesquisa foi apresentada ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que, segundo a Fenae, está analisando os dados e avaliando quais providências devem ser tomadas. A entidade também encaminhou o material à Comissão Executiva de Empregados da Caixa (CEE/Caixa) para que o assunto seja pautado na mesa de negociação permanente.
Mais da metade já sofreu assédio moral
Os resultados da pesquisa mostram o peso do “assédio moral institucional”, denuncia o documento divulgado pela Fenae.
Foram feitas perguntas sobre uma série de situações típicas de assédio moral na relação com a chefia direta do banco, tais como demanda excessiva por trabalho, pressão, atribuição indevida de erros, ameaças, gritos, entre outras situações constrangedoras.
Mais da metade dos entrevistados (53,6%) disse ter passado por ao menos um desses episódios e 81,3% dos entrevistados afirmaram que essas situações ocorrem também com outros colegas.
Muitos trabalhadores e trabalhadoras também abordaram o assunto suicídio ao serem entrevistados e 46,9% tiveram conhecimento de algum episódio entre os empregados da Caixa.
Subnotificação e negligência
A subnotificação dos acidentes de trabalho foi um dos problemas constatado na pesquisa. A maioria dos casos não foi formalizada junto à Caixa. Apenas 4,4% dos que tiveram algum problema de saúde relacionado ao trabalho relatam que a Caixa emitiu Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).
Do total de dois mil entrevistados, aproximadamente 8% disseram já ter entrado com licença médica por problemas de saúde mental e ficaram, em média, 125 dias afastados. Entre eles, somente 13,6% tiveram emissão de CAT.
Segundo Fabiana Matheus, diretora de Saúde e Previdência da Fenae, a Caixa sonega as informações que o banco é obrigado por lei a notificar aos órgãos de governo.
Além disso, diz a dirigente, a Caixa não investe em uma política consistente de saúde do trabalhador. “Milhares de pessoas estão adoecendo dentro do banco e nós precisamos denunciar isso”.
Quem trabalha nas agências sofre mais
Os bancários e bancárias que atuam nas agências apresentam mais problemas de saúde e estão mais sobrecarregados. Entre os que trabalham nas agências, 36,4% disseram que tiveram problemas de saúde relacionados ao trabalho nos últimos 12 meses e 66,2% alegaram sobrecarga de trabalho.
Já entre os que atuam nas unidades administrativas, 26,5% tiveram problemas de saúde e 41,2% disseram estar sobrecarregados.
A subnotificação também é maior nas agências, onde a emissão de CAT só ocorreu em 3,5% dos casos. Nas áreas administrativas, os comunicados foram emitidos em 6,8% das situações.
Sobrecarga, estresse e vida pessoal
A pesquisa elaborou um índice de estresse no trabalho que considera de 0 a 10 o nível de estresse dos trabalhadores. O resultado mostra que 26,3% dos entrevistados apresentam um nível de estresse entre 7 e 10.
Já o grau de interferência negativa do trabalho na vida pessoal é classificado entre 7 e 10 para 27,1% dos entrevistados. “Isso revela o quanto o adoecimento crônico provocado pela gestão da Caixa não atinge apenas os empregados, mas afeta também os núcleos familiares, multiplicando o impacto nocivo sobre a sociedade”, critica a diretora da Fenae.
Confira aqui os dados da pesquisa. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. (Fonte: Fenae) do site FEEB-PR