“O HSBC era a última cerejinha do bolo”

09/02/2018

Leia entrevista com Octavio de Lazari Junior, o novo presidente-executivo do Bradesco 
O executivo Octavio de Lazari Junior, futuro sucessor de Luiz Carlos Trabuco Cappi na presidência executiva do Banco Bradesco, venceu a corrida para dirigir o segundo maior grupo financeiro privado do País com um discurso que concilia passado, presente e futuro.

Sua missão é renovar o legado dos seus três históricos antecessores – Amador Aguiar, Lázaro de Mello Brandão e Trabuco –, conquistando os clientes da geração digital sem descuidar daqueles que frequentam as agências e garantem o ganha-pão da empresa. “Não existe bala de prata”, afirmou Lazari à DINHEIRO, pouco depois de ter seu nome confirmado. Confira a íntegra da entrevista a Milton Gamez:

Quais são seus planos à frente do Bradesco? Como vai dirigir a transição para o novo mundo digital? 
Estou indicado e serei ratificado pela assembleia de acionistas no dia 12 de março. Portanto, temos um tempo até lá para discutir isso tudo com o Trabuco e os novos conselheiros [Domingos Figueiredo de Abreu, Alexandre da Silva Glüher, Josué Augusto Pancini e Maurício Machado de Minas].

Um fato é primordial. Minha obrigação, meu compromisso, não é nem dar continuidade ao legado do seu Aguiar, do seu Brandão, do seu Trabuco, mas renovar esse espírito de legado, esse espírito de crescimento e de liderança de meus antecessores. E, a partir daí, fazer o trabalho que precisa ser feito. Não há uma bala de prata, há uma série de coisas para fazer.

Por exemplo? 
Continuar fazendo crescimento orgânico do banco, continuar oferecendo conveniência aos nossos clientes, principalmente pelos canais digitais, fazer isso de uma forma que facilite a vida do cliente lá na ponta. Saber lidar com os nossos clientes. Tem uma coisa muito importante que precisamos sempre lembrar: somos um banco com mais de 30 milhões de clientes.

Falamos muito do mundo digital, que é inexorável e absolutamente necessário, mas todo dia, quando abrimos as nossas agências e nossos mais de 10 mil pontos de atendimento, convivemos com quatro gerações de pessoas. Todo dia convivemos com os baby boomers, a geração X, a geração Y, a geração Z. Então, temos que entregar conveniência e ter atendimento adequado para todas essas gerações.

Ser digital sem abrir mão do relacionamento, é isso? 
Isso! O Bradesco é formado por dois pilares, pessoas e tecnologia. A tecnologia está a serviço do negócio, a serviço do cliente, para entregar conveniência, onde e quando ele quiser. Mas, no dia em que ele quiser falar com uma pessoa, ter uma consultoria e tirar suas dúvidas, temos um pilar de pessoas para atendê-lo.

Não abrimos mão do relacionamento. É isso o que pereniza o banco. Um amigo me disse que o Bradesco não é um marketplace (shopping virtual). Isso é verdade. Banco é relacionamento. Ninguém troca de banco todo dia, toda semana, todo mês. As pessoas querem ter um banco em que podem confiar e ter suas necessidades atendidas por muito tempo. Trocar de banco não é fácil. Por isso, os pilares de pessoas, tecnologia e relacionamento são fundamentais na nossa história.

Faz sentido manter uma rede de agências físicas deste tamanho? 
O que o sr. dirá aos funcionários das agências nos próximos meses e anos? Nossa rede de agências vem passando por uma busca de eficiência. No ano passado, fechamos mais de 500 agências. Tinha muita agência sobreposta, fechamos algumas, mantivemos outras e até abrimos outras. Com a evolução da tecnologia, não precisamos de agências tão grandes como antes, com 1.500 ou 2.000 metros quadrados. Elas podem ser menores.

Mas não abrimos mão da presença física das nossas agências. Aonde precisa ter, continuaremos a ter. Ela é um ponto de referência, um ponto de encontro de nossos clientes. Temos que pensar na digitalização e no atendimento digital, por isso temos plataformas digitais para atender os clientes que preferem fazer as coisas e falar com seus consultores por telefone. Temos o banco Next, para os clientes – talvez os milennials – que queiram fazer uma jornada absolutamente digital, sem ter que conversar com uma pessoa ou ir a algum lugar físico.

Mas sempre tem quem gosta de ir pessoalmente conversar com seu gerente, fazer sua aplicação e ouvir conselhos sobre o melhor investimento. As agências de bancos são uma vantagem competitiva, a única coisa que temos de fazer é adequá-las conforme as necessidades que a gente vai ter num futuro próximo.

Como convencer um cliente milennial de que o Bradesco é um banco adequado para ele, já que é um banco com um pé firme no mundo real, na vida das empresas e das pessoas? Qual é a linguagem para atraí-lo? 
Por isso não podemos ter um banco só e oferecer só um tipo de conveniência ou um só canal de atendimento. Por isso lançamos o Next, um banco totalmente voltado para essa população que quer fazer uma jornada digital, seja para um empréstimo, uma aplicação, uma vaquinha para fazer um churrasco com os amigos.

Temos isso bem resolvido, com a solução para esse millenial. Mas se um dia ele começar a trabalhar numa empresa, precisar fazer um crédito imobiliário e tiver dúvidas, ele pode passar numa agência para conversar. É essa complementariedade que temos que dar para os clientes. Atendê-lo no sofá da casa dele ou na agência. Temos quatro gerações fazendo algum contato com o banco, todos os dias. É preciso entender essa flutuação. Cada cliente é um ser único, temos de ter essa sabedoria.

Quais são as áreas de negócios que o sr. vai prestar mais atenção agora? Vai haver mudança ou foco específico em algum flanco em que o banco esteja descoberto em relação à concorrência? 
Não, acho que não. A preocupação é ter um olhar holístico sobre o banco todo. Não tem uma só bala de prata que possa transformar, é uma soma de fatores sobre todos os aspectos. O que a gente precisa em todas elas é aumentar a base de clientes e ganhar escala. Isso é condição sine qua non para qualquer negócio.

Quer dizer que agora o Trabuco vai aumentar a cobrança em cima do sr. para ganhar clientes? 
Já faz tempo que ele faz isso! (risos)

Qual será sua primeira medida como presidente do banco? 
É muito prematuro para dizer, vamos conversar muito agora com o Trabuco e os conselheiros sobre isso. É uma característica do Bradesco, desde o seu Aguiar, o seu Brandão. Sempre operamos por consenso. Tenho muitas ideias para colocar na mesa. Coisas que eu trago da minha experiência de 40 anos na rede de agências, no grupo segurador, na área de alta renda, no crédito. Vou colocar as ideias na mesa e aí gente decide por consenso o que é melhor fazer, onde atacar para fazer o banco cada vez melhor.

O Bradesco fez uma grande aquisição no ano passado, o HSBC, por R$ 16 bilhões. Como está o radar para novas compras? 
Acho que agora não existe mais essa possibilidade. O HSBC era a última cerejinha do bolo. Os outros bancos estão inchados, não vejo mais nenhuma oportunidade para a gente comprar. E não faz muito sentido, pois temos um HSBC inteiro para ganhar escala, para aproveitar melhor. Tivemos um trabalho muito bonito no último ano com relação a sinergias, a custos. Foi muito bem feito e apreciado no balanço do banco. Agora, temos de ganhar escala também com as agências do HSBC. Não há nenhuma aquisição no radar.

Nesse caso, para passar o Itaú, vocês vão ter que trabalhar dobrado? 
Sinceramente, não estou preocupado com isso, não. Senão, começa a virar obsessão. O trabalho bem feito vai surtir resultado. Se acontecer, vai ser por consequência de um trabalho bem feito. Minha única preocupação, de fato, é envolver os 100 mil funcionários nesse objetivo de fazer um trabalho bem moldado, voltado para o cliente. O cliente é o centro das nossas atenções, é o centro do universo.

O sr. está otimista com a economia? 2018 é um ano de transição, de reformas que não passam. Como está vendo esse cenário? 
A gente passou por muitas dificuldades nos últimos quatro anos, não dá para negar. Foi muito complicado, muito desafiador, sob todos os aspectos. Mas 2018 já vem com um alento. Temos uma expectativa boa. A inflação está quase controlada, não deve ter nenhuma surpresa. A taxa de juros caiu de 14% para 7% num prazo bastante curto, então está bem controlada. Nesta semana, tem outra reunião do Copom, talvez haja outra redução (na quarta-feira 7, o BC reduziu a Selic para 6,75%).

Então, sob certos aspectos da estrutura, estamos bem. A gente já vê recuperação em certos setores da economia, as empresas voltam a contratar, a expectativa que temos é de mais de 1,5 milhão de novos empregos em 2018. Acho que a agenda de consenso está instalada, quer seja neste ou naquele governo, com esta ou aquela pessoa. Essa agenda positiva não vai mudar. Há consenso de que as reformas são necessárias, que é preciso reduzir o déficit público.

Ninguém no Brasil tem dúvidas de que isso possa acontecer. Então, a minha expectativa é até otimista para a gente começar um ciclo de crescimento. Não vai ser um ciclo de crescimento muito acelerado, mas não importa. A gente não quer crescimento acelerado, preferimos um crescimento menor, mas contínuo. É isso que vai fazer o Brasil ir se ajeitando ao longo do tempo, seja na politica fiscal, na monetária, em todos os aspectos.

Há sinais de retomada nos indicadores industriais. As empresas estão realmente voltando a investir? 
Nos primeiros dias de janeiro, já começamos a sentir uma busca maior por parte das empresas, o crescimento do comércio. O faturamento começa a melhorar, há busca por operações para ajustar alguma coisa, há até um pouco de investimento. O fluxo de busca por oportunidades de credito já está muito melhor. Em janeiro, eu diria que está 20% superior ao que foi em dezembro. (Fonte: IstoÉ) do site FEEB-PR

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